Música, arte, entretenimento e uma dose de poesia. Aqui não tem segmento específico, é tudo muito pessoal. É que eu só quis dizer...
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Guy Debord: me add no face?

Confesso que estar no Facebook hoje, como consumidora web de longa data (ponha aí a palavra MIRC no meu passado e vocês entenderão), me causa um certo masoquismo.

Não me considero uma pessoa necessariamente fofoqueira, mas sempre percebo que acabo gastando muito mais tempo com NADA do que deveria. Comecei a me perguntar sobre a questão. Se, na vida real (sim, real) nem todo mundo tem esta mania insana de procurar sobre a vida alheia, por qual motivo muitos de nós sentem que gastam mais tempo do que deveriam em redes sociais.

A resposta pode parecer simples: entretenimento. Mas esta distração pura e simples esconde uma incrível relação com as formas tradicionais de comunicação unilateral que crescemos consumindo: Tv, jornais, revistas.

O texto de Guy Debord agora pode ser facilmente reciclado, e transformado em algo muito mais intenso – e na minha opinião, perigoso. A sociedade do espetáculo agora não é feita por um grupo seleto de empresários e artistas elitistas, mas por cada um de nós.

A mesma novela mexicana!!!
A princípio isto poderia parecer uma coisa boa, trazendo uma idéia de democracia e verdade entre as relações humanas, mas há uma grande questão envolvida neste processo: a vaidade de cada um.

Considere a rede social como uma novela, onde cada um é responsável pelo seu próprio personagem: o que se pensa na hora de escolher a foto de perfil? Não há muita escapatória, escolher uma imagem que te defina para o mundo vai forçar um processo narcísico. Há um questionamento involuntário sobre a sua própria personalidade, que te ajudará a definir o que espelhar. Você escolhe a foto que te faz inteligente. Ou a que te faz “super solto no mundo”. Ou a que te faz o “rei da night”.


Todo o preenchimento de profile constrói um espelho da sua identidade virtual – que constitui uma espécie de clone melhorado. Ali, o usuário tem a oportunidade de customizar-se para o mundo (muita gente vai fundo na história e até um photoshop rola pra isso).


No fundo a realidade sempre dói, né, bem...
Digo que este processo é um tanto perigoso, pois, como todas as formas de interação social geradas pela web até hoje (chats, instant messengers ou redes sociais), essa realidade alternativa também tende a se refletir na forma com que nos relacionamos:

“Não se pode opor abstratamente o espetáculo e a atividade social efetiva; este desdobramento está ele próprio desdobrado. O espetáculo que inverte o real é efetivamente produzido. Ao mesmo tempo, a realidade vivida é materialmente invadida pela contemplação do espetáculo, e retoma em si própria a ordem espetacular dando-lhe uma adesão positiva. A realidade objetiva está presente nos dois lados (...) a realidade surge no espetáculo e o espetáculo é real. Essa alienação recíproca é a essência do sustento da sociedade existente.” – Guy Debord

A queda do Facebook pelo resto do mundo (EUA, Noruega, Reino Unido, Canadá e muitos outros) me levantou esta interrogação: não vemos ainda, sinal de migração. A interação via redes sociais é tida como algo interminável na última década, mas pode muito bem ser uma bolha comportamental (como foi o chat, nos primórdios da comunicação instantânea). 

Os heavy users de web (grandes influenciadores em comportamento) tendem a preencher cada vez menos informações, ou até saírem das redes. A questão de privacidade sem dúvida influencia, mas é possível haver motivos a mais nessa questão.

Será que isso cansa?
Lógico que este movimento ainda não se aplica a países como Brasil e México (onde o Orkut ainda é líder e o Facebook está em ascensão desesperadora). Mas como toda bolha, uma hora as coisas repercutem por aqui – e acho inclusive que, aos poucos, já dão sinais.

Fato, é que as relações interpessoais se tornam mais líquidas. Não temos muita escapatória. Se por um lado, ter um share comentado por um colega da classe de 92 traz um sentimento bom de nostalgia, também traz um engancho de realidades que, muitas vezes, não mais se comunicam.

Vale pensar quantas das pessoas que já te adicionaram na vida, você realmente gostaria de encontrar na rua e levar um papo (rs).

Esta não foi uma tentativa conservadora de desmoralizar as redes sociais (até porque faço parte delas e com uma foto mega-escolhida e maquiada). 
Só acho que, uma vez ou outra, vale um olhar afastado de como mudamos culturalmente. Isso ia ajudar muito marmanjo de mercado por aí a parar de focar em ferramenta e pensar em sociologia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Rany! Adorei o seu artigo. Um bj. Juliana.

Carlos Silva disse...

Rany, quando o livro surgiu ficamos viciados nos livros, depois no rádio e na tevê. Hoje, é normal ficarmos horas diante da tevê e estranho no Facebook. Somos viciados em tudo aquilo que nos impede de viver, de ver as coisas como são, pois nada melhor do que fugir para uma Facelândia.

Conseguir ter uma crítica no nosso piloto automático é a chave para que possamos ser mais maduros e menos levado pelo nosso falso-eu.


A rede tem, então, esses dois lados, permite o diálogo, mas principalmente a fofoca.

Porém, prefiro muito mais a possibilidade da fofoca coletiva do que a da televisão verticalizada.

Temos que tentar transformar fofoca, assim, em diálogo para ver o que é possível mudar.

Que dizes?

Beijos,
Nepô.

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